terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Espera

Encostou o carro na zona escura da rua, protegido pelos prédios de olhares que o pudessem denunciar. Puxou a mortalha e o tabaco, enrolando, de forma lenta, o cigarro. Tempo era aquilo que de momento mais tinha. Espiar este ou aquele era a sua forma de vida.
Do seu local podia observar toda a rua, transeuntes, movimentos e a sua alma que, nesta noite clara e quente, puxava as pessoas para a rua, para o convívio, para a festa.
Pousou o olhar, cansado de tanto descobrir e vasculhar, no café à sua direita cheio de luz, cores vivas, calor. Lá dentro, de momento não muito concorrido, observou os rostos e a vestimenta do casal. Elegantes, bem vestidos, belos no momento, de faces serenas e sorridentes. Adivinhava-se um inicio de noite feito de cumplicidades e partilha. Sairiam para um jantar? Um cinema? Quem sabe, somente um lento passeio ao longo da calçada que envolve o rio calmo e sereno, banhado por um luar intenso, que faz da noite, dia.
O barman fala, de modo caloroso com o homem que, sozinho, se encontra ao balcão. Esperará por alguém? Fará horas para se retirar? Sómente uma bebida para se confortar?
Na sua mente, desenrolam-se imagens de outros momentos.
Acaba o cigarro, em movimentos lentos, lambendo a mortalha, para de seguida, com a mão protegendo o cigarro, dar uma puxada profunda e encher o peito desse prazer tão próprio e de sabor acridoce.
Quanto mais tempo terá de esperar? Começou hoje este novo trabalho mas já está cansado desta vasculhice da vida dos outros. Em casa o espera o seu alicerce físico, mental e emocional. Como anseia ir....
Umas luzes, ao longe se adivinham… Será que é quem espera?....

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