quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

MORTE DE DIVA

Nunca levara aquilo muito a sério mas afinal era mesmo verdade. Quando morremos, a vida passa diante nós como um filme. Acomodou-se para assistir mais relaxado à projecção, ignorando o calor húmido do sangue que começava a ensopar a almofada.
Estavam lá todos. O padre que o esconjurara quase à nascença ao sabê-lo gay. Os amigos de infância e adolescência. As tias, de Cascais a Biarritz. Os músicos de jazz do Harlem. Os bêbados do Soho. As noites de glamour da Broadway. Os plateaux.
E os homens, todos os homens. Os miúdos giros a quem nunca soubera resistir. Os actores e modelos que lhe pediam um passaporte para a fama. Os homens de uma noite só. Os que se vestiam de mulher. Todos os homens.
O Anjo Exterminador aproximava-se mais uma vez, implacável. Sentiu o seu pé a apoiar-se na garganta e a pressionar.
Tempo para os créditos finais:
“Obrigada meu Deus por me deixares morrer em Nova Iorque! Obrigada por tudo o que os jornais vão dizer amanhã. Obrigada por ser aos pés de tão belo anjo! Obrigada por esta morte de div...!”

1 comentário:

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.